quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A arte de desaprender

Assim como há escolas e cursos para aprender, deveria também existir para ensinar a desaprender
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Apresentou-se à porta do convento um médico interessado em tornar-se frade. O prior encarregou o mestre de noviços de atendê-lo.  ― Caro doutor – disse o mestre – o prior envia-lhe esta lista de perguntas. Pede que tenha a bondade de respondê-las de acordo com os seus doutos conhecimentos.  O jovem médico, acomodado no parlatório, tratou de preencher o questionário. Em menos de uma hora devolveu-o ao mestre. Este levou o papel ao prior e retornou quinze minutos depois:  ― O prior reconhece que o senhor demonstra grande conhecimento e erudição. Suas respostas são brilhantes. Por isso pede que retorne ao convento dentro de um ano.  O médico estampou uma expressão de desapontamento:  ― Ora, se respondi corretamente todas as questões – objetou – por que retornar dentro de um ano? E se eu tivesse dado respostas equivocadas, o que teria sucedido?  ― O senhor teria sido aceito imediatamente e, na próxima semana, já estaria entre os noviços.  ― Então, por que devo retornar em um ano?  ― É o prazo que o prior considera adequado para que o senhor possa desaprender conhecimentos inúteis.  ― Desaprender? – surpreendeu-se o médico.  ― Sim, desaprender. Entrar na vida espiritual é como empreender uma viagem: quanto mais pesada a bagagem, mais lentamente se cobre o percurso. Na sua há demasiadas coisas substantivamente inúteis.  E o doutor partiu sob promessa de retornar dentro de um ano, o que de fato sucedeu.  Assim como há escolas e cursos para aprender, deveria também existir para ensinar a desaprender. Quantas importantes inutilidades valorizamos na vida! Quantos detalhes sugam nossas preciosas energias e consomem vorazmente o nosso tempo! Quantas horas e dias perdemos com ocupações que em nada acrescentam às nossas vidas; pelo contrário, causam-nos enfado e nos sobrecarregam de preocupações.  Precisamos desaprender a considerar os bens da natureza produtos de uso próprio, ainda que o nosso uso perdulário se traduza em falta para muitos. Desaprender a valorizar um modelo de progresso que necessariamente não traz felicidade coletiva e uma economia cuja especulação supera a produção. Desaprender a olhar o mundo a partir do próprio umbigo, como se o diferente merecesse ser encarado com suspeita e preconceito.  O desaprendizado é uma arte para quem se propõe a mudar de vida. Nessa viagem, quanto menos bagagem e mais leveza, sobretudo de espírito, melhor e mais rápido se alcança o destino. Vida afora, carregamos demasiadas cobranças, mágoas, invejas e até ódios, como se toda essa tralha fizesse algum mal a outras pessoas que não a nós mesmos.  O que nos encanta nas crianças com menos de cinco anos é a interrogação incessante, o interesse pela novidade, o espírito despojado. Era isso que sinalizou Jesus quando alertou a Nicodemos ser preciso nascer de novo, sem retornar ao ventre materno, e tornar-se criança para ingressar no Reino de Deus.  O médico candidato a noviço comprovou ser bem informado, mas ignorava a distinção entre cultura e sabedoria. Soube elencar as mais célebres telas da pintura universal, sem no entanto ter noção do que significam e por que o artista fez isto e não aquilo. Conhecia todas as doenças de sua especialidade, sem a devida clareza de como se relacionar com o doente.  A humanidade não terá futuro promissor se não desaprender a promover guerras e a considerar a pobreza mero resultado da incapacidade individual. Urge desaprender a valorizar o supérfluo como necessário e a ostentação como sinal de êxito. Desaprender a perder tempo com o que não tem a menor importância e se dedicar mais nos cuidados do corpo que do espírito.  A vida espiritual é um contínuo desaprender de apegos e ambições, vaidades e presunções. A felicidade só conhece uma morada: o coração humano. Eis aí milhões de viciados em drogas a gritar a plenos pulmões terem plena consciência de que a felicidade resulta de uma experiência interior, de um novo estado de consciência. Como não aprenderam a abraçar a via do absoluto, enveredaram pela do absurdo.  E convém aprender: no amor mais se desaprende do que se aprende.     Frei Betto é escritor, autor de “A arte de semear estrelas” (Rocco), entre outros livros.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Condomínio. Fechado?

Há quase 3 anos, minha mãe foi sorteada por um programa do Estado do Maranhão, que a "presenteou" com um apartamento que ela vai passar 15 anos da vida pagando. Foi uma transição impactante, para nós que estávamos habituados com uma vizinhança grande...
Condomínios fechados, para mim, são lugares surpreendentes. Não pelo luxo, ou pela organização semi-militar que eles aparentam impor. Mas toda a conjuntura social que está presente nele.
À primeira vista, foi uma maravilha:
"-Restritamente proibido lixo nos corredores;
-Qualquer tipo de obras são terminantemente proibidas à noite e aos finais de semanas da tarde em diante;
-Proibido quaisquer tipos de animais domésticos;"
Entre muitas outras frescuras, caro leitor...
Só que é depois que o encanto passa que cinderela volta a ser auxiliar de serviços gerais, não é verdade? E vim perceber o quão ridícula, egoísta e geralmente triste é essa situação. No seu âmago, os condomínios fechados são representações exatas do quanto  o homem moderno é solitário, mal-amado e infeliz.
Com o passar do tempo, qualquer irregularidade já é motivo de reuniões de condomínio, com presença de administradora e etc. E começam a surgir emendas contratuais que me fazem pensar: "Que porra é essa?"
Exemplos:
-Proibido falar com o porteiro.
PROIBIDO FALAR COM O PORTEIRO! Que absurdo! Um dos motivos que enaltecem o ser humano é justamente sua habilidade comunicativa, sua interação em sociedade. Aos poucos, o corroborador egoísmo humano que se fortalece pelo poder do dinheiro transforma seres humanos prestadores de serviço em gravadores e máquinas: quando não fazem movimentos manuais repetitivos, estão com um léxico determinado decorado na cabeça, pronto para repetí-lo tão bem quanto atendentes virtuais.
-Evite conversar com os vizinhos para evitar atritos.
EVITE CONVERSAR COM O VIZINHO ? Ora droga!  E o que foi que você passou anos e anos fazendo na escola? Só decorando pra passar no vestibular?
Se as pessoas não estão passando anos e anos nas escolas "desenvolvendo-se", desenvolvendo sua sociabilidade, TODAS as técnicas pedagógicas podem ser excluídas agora. O déficit do mundo das ideias para a realidade tem sido gigantesco! Quem inventou essa regra, que vá procurar crescer enquanto ser humano...

 O condomínio fechado onde minha mãe mora, representa muito da perversidade humana. À frente do condomínio, existem casas feitas de madeira e barro, com populações verdadeiramente carentes, que são obrigadas a conviver com o lixo produzido pelos condomínios. Muito lixo, aliás, como sabemos que a classe média ascendente produz, crente que está evoluindo (está?).
Os condomínios desta região, são cercados por ruas mal pavimentas, cujo esgoto permanece a céu aberto; esgotos esses que transbordam e invadem as casas das populações pobres em dia de chuva.
A maioria da população desses condomínios tem carro. Essa população só se preocupa com a qualidade do asfalto da rua. Como diria o narrador do desenho Madeline: "Só isso, mais nada". Eles não se dão conta de que reservas florestais são destruídas pouco a pouco, todo santo dia, pelo próprio governo do Estado. Que seus condomínios fechados foram construidos sobre florestas abertas, que anteriormente faziam de São Luis uma cidade cheia de uma  brisa intensa, que hoje infelizmente se transforma na ilha do calor; culpam Deus pelos pernilongos que os atacam pela noite, mas não fazem um pingo de questão de perceber que aquela área era seu habitat.
Voltando para casa num ônibus, notei (ou fui obrigado a notar) a propaganda de um curso preparatório para concursos que dizia: Seja um campeão você também! Faça Curso X e tenha sucesso com um salário de valor Y!
O salário citado pelo outdoor é justamente o que toda a conjuntura social tem pregado: estude, trabalhe, e viva confinado, opa, viva tranquilo num condomínio fechado. Ganhe o suficiente para não ter que por seus pés no esgoto que formar-se-á na rua do seu condomínio, a fim de tanger os pobres. Ganhe o suficiente para não ter que se esbarrar com a plebe suada nos ônibus. Ganhe mais ainda para não ter que esperar pelos deficientes serviços públicos de educação e saúde. Ganhe para que sua felicidade seja tão real quanto a foto de um fake de orkut. Ganhe o suficiente para se tornar tão fechado quanto seu condomínio. O suficiente para deixar de pensar nos outros; Antes de mudar o mundo, mude sua realidade.

Sei não, mas se a humanidade vai ter um fim, esse fim já começou. E não estão sendo precisas bombas atômicas, etc. Só precisamos de gente e de motivação final pra essa gente. Então... Já começou mesmo...

Deus os abençoe!

sábado, 16 de julho de 2011

O que tenho visto

Eu sei que estou devendo novas postagens aos meus leitores. Peço-vos perdão.
Postarei brevemente.
Tenho visto algo sobre anarquismo, e vos peço que olheis estas frases. São muito fortes.
Breve, postagens bacanas!
¡Hasta Pronto!
Me pergunto em que tipo de sociedade vivemos, que democracia é essa que temos onde os corruptos vivem na impunidade, e a fome das pessoas é considerada subversiva.

Ernesto Sábato, Antes do Fim (1998).
Os escravos do século XXI não precisam ser caçados, transportados e leiloados através de complexas e problemáticas redes comerciais de corpos humanos. Existe um monte deles formando filas e implorando por uma oportunidade de trocar suas vidas por um salário de miséria. O "desenvolvimento" capitalista alcançou um tal nível de sofisticação e crueldade que a maioria das pessoas no mundo tem de competir para serem exploradas, prostituídas ou escravizadas.

 

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Novo Design

Devo aos meus caros leitores uma satisfação. A mudança do Layout.
Muitos me perguntaram o motivo daquela montanha ao fundo.
Não é uma montanha. É um elefante.
Por que eu incomodo?
kkkk
Não, não é bem por isso. É por que desde criança me identifico com elefantes.
Elefantes são gordos. Eu fui obeso minha infância inteira. Um meigo elefantinho.
Elefantes são imponentes. Eu não sou, mas amo admirá-los.
Elefantes são espaçosos. Eu muito o sou.
Elefantes tem orelha e nariz grandes. Eu também.
Algumas pessoas tem um medo injustificável de elefantes. Pensam que farão mal.
Mas elefantes são dóceis. Às vezes são rudes, se assim você os tratar. Mas se você fizer um considerável corte em uma de suas orelhas, eles brevemente morrerão, por que todos os vasos sanguíneos de seu coração passam pelas orelhas.
Por fim, elefantes, apesar de serem vistos como inabaláveis às vistas alheias,  tem um medo inexplicável de um bicho bem menor que ele, que muitíssimo provavelmente não lhes traz mal algum: ratos.
Depois que descobri esse medo particular e comum comigo, resolvi assumir o elefante como animal com o qual mais me identifico.
É por esses e alguns outros motivos que renovei o design do blog.
Mostrar um pouco mais dos meus adoráveis elefantes. Da minha visão do mundo. De mim.
Qualquer reclamação quanto a fonte, cor, ou QUALQUER OUTRA COISA, utilize o espaço dos comentários.
Abraços Saudosos!

sábado, 4 de junho de 2011

Assalto? O que é isso?


 Galera, segue abaixo um dos contos de um possível livro aí.
 Abraços Saudosos!

Tu vem pra cá todo dia? Ah, sei... Eu moro pro rumo de cá mesmo. Bem ali no Gavião.
Eu? Tô voltando das Minas Gerais, meu filho... Tenho dois filhos pras bandas de lá. Já faz até um tempo que eles foram pra lá. Tentar a vida né? Cada um se vira do jeito que pode. E sendo esse o jeito, eles foram pra lá.
Ninguém é obrigado a passar tanta desgraça nessas roças... Tanto se trabalha, pouco se tem. Agradeço a Deus, todo santo dia, a oportunidade que ele deu pros meu minino de miorá de vida.
É a segunda vez que eu rumo pras bandas de lá. Eu quase que não ia... Ora porquê?! Não me inventaram um negócio de assalto! Queira saber não... Meu fi, como se não bastasse ter de pegar três dias e três noite de viaje, inda vinha esses fi de corno pra roubar a gente. O pouquinho que a gente tem. E eu, meu fi, que não sei nada disso, nunca tinha passado uma situação dessa... Tu nem imagina. O semvergoin, lá pra depois do Goiás, levantou o cano, deu um tiro pra cima e mandou o povo passar tudo. E eu, jega, me levantei e fui perguntar pro menino:
-Mas meu fi, passar o quê?
E me dando uma coronhada , o desgraçado disse:
-Tá me tirando, véia? Quer morrer, porra?
É... Isso bem aí mermo. A primeira a ser assaltada fui eu. Às duras penas aprendi que que é um assalto. Mas Deus é Pai. Graças a ele, to viva pra lhe contar a história.
Meus filho? Meus filho tão bem, graças a Deus. Eles não são desentendido não... Se formaram lá... em não sei o quê. Pra te falar a verdade, nem me importa o que tenha sido. Me importa saber que tão bem, em paz, tem família, e ajuda os que tão perto. Sabe, meu filho, né todo dia que no interior tá bom não, e mêurminino nem como fazer alguma coisa pra me ajudar tem. Aqui é muito escondido, não tem o que eles chama de desenvolvimento.
Mas só o fato de saber que eles estão bem, já me dá a certeza de que posso passar o resto dos meus dias em paz. Certeza também de que meus menino, para o mundo, já tão criado. Preparado pras alegria, pras tristeza, pra fartura e até pra fome.
Pra Belo Horizonte? Volto nada... Já tô velha pressas coisa. Se meus filho me quiserem ver, que venham. É a mesma distância. Parada? Fico nada! Vou fazer o que ainda me resta. Enquanto Deus me der vida, continuo plantando, colhendo, rezando meu terço. E esperando que, pelo menos d’agora em diante, o frio venha conforme o cobertor.
Até mais meu fi. Nas volta da vida a gente se vê de novo. Que Jesus te acompanhe!

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Luto

Profundamente contrito com tamanha fatalidade.
Tento passar à poesia o sentimento e a junção de fatos contribuintes à situação homicida ocorrida no dia 7 de abril de 2011 no Rio de Janeiro.
Se tivéssemos mais ordem para o progresso, talvez tragédias assim fossem evitadas.
Se tivéssemos educação inclusiva e trabalhássemos na integração conjuntural de ideias, um sociopata desse talvez fosse identificado anteriormente.
Talvez... É talvez. Já existem dúvidas demais para minhas infãmes colocações.




Das poucas letras que ainda sobram de meu pensamento, clamo:

"Vós!
Vós que podeis fazer algo pela educação nesse país, agí!
Vós que fostes denominado pelo poder público para ajudar na construção de um Brasil honesto, faze-o!
Vós que preparais leis (ou fingis que as preparais), cumpri com vossa obrigação!
Vós que cumprais leis (ou fingis que as cumprais), fazei o que vos foste incumbido!
Vós, que sois indelevelmente selecionados para contribuir com a carreira de um país de justos, efetivai vosso amor ao que fazeis!
Vós, que estudais, estudais para a melhoria do mundo!
Não há ideal mais justo, não há destino mais santo;
Haverá de fato, sustos; mas pela nação, evitemos tantos prantos!
Vós que sois responsáveis por gerir este estado: cuidai em efetivar educação vivaz, tal qual o Brasil.
Vós, que cuidais de nossa segurança, não vos corrompais! Ó céus!
Eviteis mais mazelas!
Vêde que somos responsáveis, direta e indiretamente por tanta desgraça!
Agi enquanto há tempo!
Não deixeis transformarnos numa triste, horrenda e irrevertível caricatura estadunidense!
Não nos convertáis nesse gênero tão consumista e pérfido;
Se há alguma maneira real e efetiva de esse poema mal feito perscrutar a conjuntura emocional de alguém,
Não caleis. Nenhum de vós."


Paulo Queiroz

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Atendente virtual, “Simples Assim”


Irracional.
É o único adjetivo que considero correto pra o atendimento a qual todos os usuários de telefonia no Brasil recebem. Na atualidade, é perceptível o descaso com cada caso, e a robotização dos atendentes de telemarketing.
Ligando para a Oi, “simples assim”, me deparei com a maior falta de respeito; Com o maior símbolo da degradação moral e intelectual dos que tem a razão como diferencial na caminhada da existência; Com a epítome da desintegração das relações humanas: a atendente virtual.
Deus Santo! Nunca desejei tamanho mal a uma pessoa; Talvez se as tecnologias em comunicações fossem tão abrangentes na ditadura militar, Geraldo Vandré teria sido obrigado a debater com a atendente virtual. Creio eu que ele teria atingido o máximo grau de loucura...
Reproduzo abaixo, uma das minhas conversas sãs que tive com a dita cuja.
“-Oi: Boa noite. (Musica Funesta) Eu sou sua atendente virtual. Agora fale o motivo da sua ligação.
-Bem, eu gostaria de obter informações sobre bônus.
-Can ce lamento (Assim mesmo, bem pausado). Está certo?
-Não, eu quero saber como faço pra conseguir um plano de bônus maior do que já tenho.
-Não entendi. Você deve dizer “está certo” ou “não está certo”. Agora repita.
-É claro que não!
-Muito bem, agora digite os 4 primeiros números do CPF do titular da linha a ser cancelada.
-Não, não está certo! Eu não quero cancelar nada!
- Agora digite os quatro primeiros números do CPF do titular da linha a ser cancelada. Você não está entendendo? Para iniciar novamente diga “Começar de novo”
-COMEÇAR DE NOVO!
-Muito bem, você está aprendendo a usar o sistema. Agora fale o motivo de sua ligação.
-Bônus –‘
- Me desculpe, mas eu não estou entendendo!
-Você não entende porque não é gente!
- Bem, para utilizar o sistema, fale o motivo da sua ligação. Se não, diga uma destas opções: Oi velox, Oi casa do caralho, Oi móvel, Oi fixo, Planos e Tarifas, Ligações Internacionais, Ligações para a estação Apolo 13, próximo à rota do Halley...
-Planos e Tarifas.
-Planos e Tarifas. Está certo?
-Sim.
-Não entendi. Você deve dizer “está certo” ou “não está certo”. Agora repita.
-Está certo, caralho!
-O ambiente no qual você se encontra está muito barulhento, e eu não consigo entender. Tente novamente mais tarde.”

Mas vocês, meus caros leitores, acham mesmo que meu humor abalar-se-ia por causa disso? Às vezes quando não se tem armas para a luta, o melhor é rir das desgraças.
E assim a vida continua...

“-Oi: Boa noite. Eu sou sua atendente virtual. Agora fale o motivo da sua ligação.
- Reclamações.
-Entendi. Você deseja falar com uma atendente. Mas para isso eu teeeenho que saber qual é o motivo de sua ligação.
-Não te interessa, você não me entende nem me entenderá nunca. De toda forma, você não pode resolver o meu problema.
-Sua frase é muito longa. Você precisa aprender a utilizar o sistema! Se as informações que você precisa são referentes a ligações internacionais, diga: Ligações Internacionais.
-Problemas com atendente virtual.
-Me desculpe, mas eu não estou entendendo!!!! Façamos assim:
-Não quero saber,
- você escolhe uma das...
-Quero falar com uma atendente de verdade!
-Seguintes opções. Para...
-Cancelamento!
-Cancelamento. Está certo?
-ESTÁ CERTO.
-Bem, agora digite os quatro primeiros números de CPF do titular da linha.
-Falar com atendente.
-Para transferir a sua ligação, eu teeenho que saber o motivo.
-Mas eu já te disse o motivo, cancelamento!
-O ambiente onde você se encontra está muito barulhento. Tente retornar sua ligação mais tarde

Perdendo minha noite, já impaciente, me decidi a falar com atendente de verdade, que pra falar a verdade, não se diferencia muito da virtual...

“-Oi: Boa noite. Eu sou sua atendente virtual. Agora fale o motivo da sua ligação.
-Já sei quem és. Me compreendes?
-Tente falar frases curtas, para que eu possa entender!
-Cu.
-Não consegui entender. Escolha uma destas opções...
-Planos e Tarifas.
-Muito bem, planos e tarifas. Sobre o que dos planos você quer informações?
- Do you speak english?
-Não consegui entender, mas...
-¿Hablas Español?
-Me desculpe, mas não estou entendendo!
-Você não entende porque você não é gente, não tem acesso a culturas, não pode compreender um fanho, não tem sentimento! E aliás: você nem poliglota é. Falar com atendente!
-Me desculpe, mas não posso tranf...
-FALAR COM ATENDENTE!
-Me desculpe, ma...
-FALAR COM ATENDENTE!
-Me desc...
-FALAR COM ATENDENTE!
-Me desc...
-FALAR COM ATENDENTE!
-Me desc...
-FALAR COM ATENDENTE!
-Me desc...
-FALAR COM ATENDENTE!
-Me desc...
-FALAR COM ATENDENTE!
-Me desc...
-FALAR COM ATENDENTE!
-Me desc...
-FALAR COM ATENDENTE!
-Você já está sendo transferido para um de nossos atendentes. Aguarde alguns instantes.
-FALAR COM atendente.... êpa! Consegui!
- - - - - - - - - - - - 49 minutos depois...
-Oi, boa noite, me nome é Ronaldo, com quem falo?
-Péssima noite, Ronaldo. Você fala com Miguel de Cervantes. Antes de fazer minha reclamação, quero que conste...
-Senhor Miguel, o senhor poderia estar anotando o número do protocolo pra atendimento?
-Ô amigo, é porque eu estou sem materiais suficientes para a promoção da escrita...
-Mas é necessário, senhor Miguel, senão eu não poderei estar lhe atendendo
-Diga aê...
-34769**#+6*#591854761298534769**#+6*#591854761298534769**#+*2011.
-Pronto.
-Bem, senhor Miguel, neste momento estarei enviando o número de protocolo por sms para o número do titular da linha.
-Mas por quais diabos você me fez anotar esse número imenso se você enviar-me-lo-ia por sms?
-Senhor, para que possamos manter um bom relacionamento no atendimento Oi, é importante que o senhor não utilize xingamentos, para que não gere nenhum tipo de constrangimentos ou...
-Constrangido estou eu!Registre minha queixa agora: Eu, como cliente da Oi há muitos anos, lamento existencialmente a aparição desta desgraça de atendimento virtual, que me fez de palhaço por praticamente 3hs! Isto é um desacato à integridade do pensamento, uma afronta a todos os horizontes existenciais das relações dos seres humanos em sociedade, o ponto culminante da robotização humana perante as tecnologias por ele criadas, o exacerbo da ignorância e desprezo das monopolizadoras e inconstantes operadoras de telefonia neste país! Estou farto desse descaso, dessa vergonha em nossos sistemas de comunicação. Que fique aqui, decretado que...
-Bem, o senhor quer fazer uma reclamação contra a operadora?
-De fato!
-Pois sim, a reclamação está registrada, com o número de protocolo 2011548796685712536542. Mais alguma coisa, Senhor.
-Sim, eu liguei pra perguntar como faço pra participar...
-Senhor, eu sinto estar lhe informando, mas seu tempo acabou.
-Como assim?
-A Oi agradece a sua ligação e tenha uma boa noite.
-Mas...
(tu tu tu tu tu tu tu tu )

Acho que o que eu tinha de dizer, já disse. Quem quiser fazer mais alguma coisa, pegue seu protocolo, de qualquer operadora, e ligue para a ANATEL, como eu fiz. Ligue 133 e registre sua insatisfação.
Abraços Saudosos!